domingo, outubro 08, 2006

Azul

«RECEITA PARA FAZER O AZUL

Se quiseres fazer azul,

pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,

que possas levar ao lume do horizonte;

depois mexe o azul com um resto de vermelho

da madrugada, até que ele se desfaça;

despeja tudo num bacio bem limpo,

para que nada reste das impurezas da tarde.

Por fim, peneira um resto de ouro da areia

do meio-dia, até que a cor pegue ao fundo de metal.

Se quiseres, para que as cores se não desprendam

com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego queimado.

Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma vez

ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto de ocre

na superfície dourada. Podes, então, levantar a cor

até à altura dos olhos, e compará-la com o azul autêntico.

Ambas a s cores te parecerão semelhantes, sem que

possas distinguir entre uma e outra.

Assim o fiz – eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,

iluminador de Loulé – e deixei a receita a quem quiser,

algum dia, imitar o céu».
Nuno Júdice


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Às vezes um pouco de cor, um pouco de azul... para um fim de semana mais saboroso - ou pelo menos nessa tentativa!

4 comentários:

Rita disse...

azul... seja em qq tom.. é a minha cor preferida.

beijinhos

Catraia_Sofia disse...

Também adoro o Azul!

:)) Azul céu, azul mar, azul sonho!

Ant disse...

Blue(s)... indolente, sofredor, a nota que mexe com a nossa sensibilidade até ao limite.
Mar__Céu__
O crescimento que dói. Sempre. Sem fuga. Um dia, talvez, depois de todos os enigmas desvendados, a dor passa a doce recordação.
Beijos

Catraia_Sofia disse...

:) Nem mais!

Em relação a dor, sempre se quer, sempre se deseja que "a dor passe a doce recordação", mas até passar...

Obrigada pela visita. Volta sempre!